domingo, 10 de maio de 2009

PSYCHOBILLY + CRAMPS

Paternidade de um estilo bastardo

Até hoje sua origem provoca discussões acaloradas, pois enquanto para alguns, surgiu nos EUA, em 1975, com a banda The Cramps; para outros, a coisa nasceu mesmo na Inglaterra, em 1980, com a banda The Meteors. Fato é que um bom psychobilly pode se resumir a um aguçado senso de humor-negro, combinado com frases musicais pra lá de manjadas de country e blues, mas com uma dose cavalar de malandragem que estilo nenhum poderia propiciar. Enfim, trata-se do estilo que melhor funde rock'n'roll e demência!
A configuração dos instrumentos é a mais básica possível: uma guitarra semi-acústica, um contrabaixo acústico do tipo rabecão e uma bateria com meia-dúzia de peças para se tocar de pé. Simples, porém incrivelmente eficaz!
Dentre suas maiores influências, podemos citar muita música demente dos anos 50 e 60 (principalmente!), filmes de terror e quadrinhos também.

Lux Interior & Poison Ivy, THE CRAMPS - banda marco zero!


Segundo os Cramps, a banda "marco zero" do estilo, suas referências musicais se apresentam em três pincipais eixos: rockabilly, surf music e 60's garage.
Quanto aos filmes, quanto mais barato e medonho, melhor! Recomenda-se muita coisa de Roger Corman, Ed Wood, Russ Meyer, H.G. Lewis, Zé do Caixão, George Romero, Tobe Hopper e o Psicose de Hitchcock também. Daí em diante as coisas evoluem para melhor como faroeste italiano, kung-fu chinês, exploitation, superman turco, batman indiano etc. Enfim, tudo em nome de uma boa diversão.




O Epicentro Europeu



"THE METEORS - Reis do psychobilly europeu"

Apesar da influência nitidamente norte-americana, o psychobilly aconteceu mesmo na Europa, a começar pelo lendário Klub Foot de Londres, que além de receber nomes locais como os Meteors, Guana Batz, Sharks, Coffin Nails, King Kurt, Restles e Frantic Flintstones, recebia também muitas bandas vindas de outros cantos da Europa, como era o caso da holandesa Batmobile ou das alemãs P.O.X. e Sunny Domestoez.

Hoje, no lugar do Klub Foot existe uma estação de trem, mas isso não significou o fim dos shows, pois de um jeito ou de outro a coisa continuou bombando pela Europa. Na Dinamarca os Nekromantix já apavoravam com sua combinação insana de psychobilly e speed metal; na Alemanha, o Mad Sin já quebrava tudo e ilhas britânicas, Demented Are Go! (Gales) e Klingonz (Irlanda) literalmente bagunçavam o coreto!



Brasil

Hulkabilly (centro) e seus KÃES VADIUS, formação 2009

Quanto ao Brasil, no ABC paulista a banda Kães Vadius abria o caminho para outros conterrâneos como o S.A.R. e os K-Billy's, e para os cariocas d'A Grande Trepada (a.k.a. Big Trep). Em '89 foi lançada a coletânea Devil Party, a primeira compilação do gênero por aqui. No mesmo período, o finado selo Stiletto lançava os discos "Sewertime Blues" dos Meteors, e "Live Over London" dos Guana Batz, que também vieram tocar no Brasil, bem como as memoráveis apresentações dos Stray Cats.

Paraná


De colunas do max


Nos anos 90, enquanto a Europa era sacudida por uma enxurrada de bandas psycho, Curitiba se tornava o principal centro do gênero no continente americano. Começou com os Missionários, seguiu com os Cervejas, Os Krápulas e Ovos Presley, e teve seu ápice com os Catalépticos, entre '97 e '06.

A cena curitibana ganhou renome internacional não só com o sucesso d'Os Catalépticos em terras européias, mas também por meio de dois grandes festivais: o Psycho Carnival, que abrange os dias do carnaval; e o Psycho Fest, que rola geralmente entre julho e setembro. Ambos contam, todos os anos, com a presença de algumas bandas gringas de renome, e tudo isso, contando com um público oriundo de todas as partes do Brasil e do mundo.




Cartaz PSYCHO CARNIVAL 2009



De lá pra cá, uma fortíssima cena desenvolveu-se em Londrina e as únicas bandas curitibanas do primeiro "boom" que sobreviveram foram Krápulas e Ovos Presley. Muitas outras grandes bandas surgiram depois, mas isso já é um assunto para a gente comentar outro dia.


Oportunidade em Cuiabá

Peter G.Vögeli, fundador dos CENOBITES (Rotterdan - NL)


Aliás, como Curitiba terá um Psycho Carnival nos dias 19 e 20, os holandeses do Cenobites, aproveitando a passagem pelo Brasil, tocarão em Cuiabá também, na sexta-feira, dia 20 de Fevereiro. De fato é uma pena que as bandas de abertura sejam muito aquém ao que sua estrada e talento de fato exigem. Enfim, para curtir um bom show de power-psychobilly, vale qualquer esforço... até mesmo aguentar um porre de bandas indigestas. Por hoje é isso. Semana que vem tem mais!

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Max Merege é um sujeito de Cuiabá que conhece e curte psychobilly há mais de 20 anos!

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THE CRAMPS

Bem que esta matéria poderia ser sobre a guitarrista Poison Ivy Rorschach (que no dia 20 completa 56 anos) ou também um belo review sobre o centenário de Carmen Miranda, mas a coluna de hoje vai para um sujeito incrivelmente fora desta dimensão e que, além de ser uma influência pessoal deste colunista ao longo de duas décadas, também passou a exercer influência pungente no mundo roqueiro desde 1973. Ele se chamava Erik Lee Purhiser, mas que também era conhecido por Lux Interior, o cantor dos CRAMPS, que na quarta-feira, dia 06 de Fevereiro, morreu aos 62, de problemas cardiácos.


Lux Interior e Poison Ivy Rorschach (Kristy Marlana Wallace) se conheceram em 1972, na lissérgica Califórnia. Ele, um ex-aspirante a monge budista, fã de Elvis e curtidor de filmes-B; ela, uma menina interiorana com ares hippies, que estava aprendendo a tocar guitarra, sob influência de Link Wray, Duane Eddy e Dick Dale. Apaixonaram-se e passaram a morar juntos. Seguiram para Ohio, conheceram o guitarrista Brian Gregory e formaram a banda THE CRAMPS, que em seguida se mudaria para New York, para tocar direto no famigerado CBGB's. Lançaram uma série de singles que mais tarde sairiam reunidos nos lps "Off The Bone" e "Bad Music For Bad People" (83/84), sob a tutela de Alex Chilton.



Por 12 anos, não usaram baixo em suas músicas, apenas "paredões" formados por duas ou mais guitarras.
Apesar de serem norte-americanos, tornaram-se cult na Europa e suas tournées pelo velho continente também viraram uma constante.
Fiéis aos seus princípios, mantiveram exatamente a mesma atitude e sonoridade ao longo de 35 anos de estrada, comparável apenas aos Ramones (in memorian) e ao Motörhead.
Criaram de fato o Psychobilly (vide Enrolando O Rock, 08/02/09) e o Garage Punk. Dentro da cultura pop, foram os primeiros a transformar o trash em cult, em dimensões jamais alcançadas. Lançaram uma média de 15 discos oficiais e também puderam contar com milhares de bootlegs ao redor do mundo. Isso tudo sem falar nos vários tributos que também foram feitos em sua homenagem.


Apesar de terem colecionado clássicos atrás de clássicos (mesmo sendo estes "resgates" de tesouros obscuros do rock), os Cramps só ganharam mesmo notoriedade a partir do disco "Stay Sick" (90), o que alçou sua carreira para outro patamar, sem que precisassem deixar de ser os Cramps que sempre foram.
De sua formação original, só restara mesmo o casal, sendo que pela banda já haviam passado uns 30 músicos diferentes ao longo dos anos.
Energia, paixão e entrega! assim eram os shows dos Cramps, que mesmo nunca tendo vindo tocar no Brasil, deixaram um belo legado sonoro e visual de shows, que podem ser muito bem achados no youtube.

Para Lux Interior, que faça muita fuzzarca, onde quer que esteja! E para Poison Ivy, nossas sinceras condolências. Afinal, vai demorar muito para aparecer outro Lux na face da Terra.

Discografia Básica: Gravest Hits (1979); Songs The Lord Taught Us (1980); Psychedellic Jungle (1981); Off The Bone (1983); Smell Of Female (1983); A Date With Elvis (1986); Rockin n Reelin in Auckland New Zealand (1987); Stay Sick (1990); Look Mom No Head (1991); Flamejob (1994); Big Beat From Badsville (1997); Fiends In Dope Island (2003);

Coletâneas: Bad Music For Bad People (1984); How To Make A Monster (2004); The Secret Life Of The Cramps (2006)

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Max Merege aprendeu realmente a apreciar um bom rock com Cramps e Ramones, também.

Publicado no caderno Folha 3, Jornal Folha do Estado, Cuiabá-MT - 08 e 15 de Fevereiro de 2009

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