domingo, 8 de agosto de 2010

CJ RAMONE - Brasilia, 23 de Julho de 2010

Para quem não está familiarizado com o nome, Christopher Joseph Ward é ninguém mais ninguém menos que o C.J. Ramone, ex-baixista dos lendários RAMONES.
Em tour pelo Brasil, CJ tem tocado por diversas capitais. No centro oeste, as capitais escolhidas foram Goiânia e Brasilia, e é justamente do show de Brasília que a gente fala...
Foi simplesmente incrível! Meio burocrático, sim! Mas em se tratando de músicas dos Ramones tocadas por seu mais ilustre herdeiro, isso já era de se esperar.
Foi na madrugada de sexta para sábado, no America Rock Club, uma casa de shows de Taguatinga que tem recebido muita figurinha carimbada do rock. A barulheira começou mesmo às 11h da noite, com abertura impecável da banda The Squintz, tocando punk rock puro e sem frescura. Em seguida, um intervalo de 20 minutos e um teste para os nervos do público ávido por clássicos tocados por alguém que os conhece como ninguém. Enfim, começa o show...
"Blitzkrieg Bop" foi chute inicial e seguiu-se uma série de clássicos ramonianos como "Judy Is A Punk", "Beat On The Brat", "Sheena Is A Punk Rocker", "Animal Boy", "Wart Hog", "Pet Semetary", "Poison Heart" etc. O povo se agitava e pulava incansavelmente nos 60 minutos de pauleira. Foi um belo show, extremamente simples e profissional, baseado na total sinergia entre os músicos e o público. Além do CJ, a banda contava com a presença do guitarrista e produtor Daniel Rey, também conhecido como "O 5º Ramone" e que desde '87 tornou-se parte crucial em tudo que os Ramones (tanto releases da banda quanto material solo dos integrantes) viriam a fazer em estúdio desde então, e do muy competente baterista Mike El Bastardo. Sem mais  delongas, um show para ficar na história!

Max Merege, CJ Ramone & Rodrigo Licar - Foto: Jessyca Hagen


Um pouco de História...

Tudo começa em 1990 quando o baixista fundador, Dee Dee Ramone, resolve parar de tocar com a banda, já que a estrada era implacável com uma média de 360 shows por ano. Mas isso não significou o seu afastamento total, afinal, ele continuou compondo e cuidando bem de seu sucessor.
Os Ramones, por sua vez, trataram de buscar logo um sucessor à altura. Fizeram inúmeros testes com vários elementos, sendo que muitos nem sequer tocavam e só apareciam por lá apenas para contemplar a presença de Joey e Johnny. Algum tempo passou e vários tantos pretendentes também, até que alguém de fato chamou atenção por seu jeito despojado, sem querer parecer cópia de ninguém, pois só queria mesmo saber de tocar: era o C.J. ! Não deu outra e no dia seguinte já ensaiavam para dentro de um mês caírem na estrada. A história deu tão certo que C.J. permaneceu fiel à banda até os seus últimos dias, durante 7 anos e ainda continuou em diversos outros projetos.
Graças à sua vida de RAMONE, C.J. obteve tudo o que simples mortal podia almejar: fama, grana e mulheres ... Afinal, casou-se bem por duas vezes. Tem se mantido na ativa à frente de projetos como as bandas LOS GUSANOS, BAD CHOPPER e seu trabalho solo ao lado de do "5º Ramone", o guitarrista e produtor Daniel Rey - Rock'N'Roll enérgico, sem frescura e escalpelante, assim é a estrada desse bravo guerreiro.

Agradecimentos: AMERICA ROCK CLUB e Andy Robbins, por nos cederem todo o background para a realização desta pequena porém honesta matéria.


terça-feira, 22 de junho de 2010

O ROCK NA TERRA DA COPA

SPRINGBOK NUDE GIRLS, um dos maiores nomes do rock sulafricano hoje.


Hoje, os olhos do mundo se voltam para a África, já que o continente mais carente da Terra tem sua primeira copa da Fifa.

Não é surpresa nenhuma a região aparecer por esta coluna, haja vista que de lá sempre saíram verdadeiras joias sonoras. Na abertura mesmo, foi possível vermos uma mescla de estrelas do pop mundial com figurinhas carimbadas da música africana contemporânea, principalmente astros renomados da world music. No entanto, o foco de hoje é sobre uma vertente sonora pouco cogitada da área: o rock branquela!


UMA SUTIL REVOLUÇÃO


Tal qual sempre nos foi mostrado, em nossa vida escolar e também nos inúmeros noticiários, a África do Sul (principalmente) como palco de uma horrenda guerra entre os negros nativos e uma minoria branca detentora do poder, até o começo dos anos 90, época em que o macabro regime segregacionista do apartheid deixava de (formalmente) existir. No entanto, o que poucos sabem é da ocorrência de uma revolução silenciosa, porém muito barulhenta, que se desenvolveu em meio aos brancos.

No final da década de 50, a ideia de juventude transviada dava as caras na África do Sul e aquele estilo chamado rock'n'roll começava a tomar de assalto as mente e os corpos dos jovens. Acontecia, enfim, uma situação inusitada: o blues, criação dos negros do outro lado do Atlântico, passava a criar suas raízes no seio das famílias conservadoras, mexendo com a cabeça de seus filhos e, por sua vez, semeando o inconformismo com tudo e todos, ao passo que as famílias liberais de classe média recebiam com simpatia algo que encaravam apenas como mais uma "tendência moderna".
Surgiam os primeiros roqueiros por lá: The Meteors, The Vikings, The Amazons, a primeira banda totalmente feminina da região, só para citar alguns.


CHERRY WAINER, a primeira rockstar sulafricana!


É curioso observar que, a exemplo das Amazons, a presença feminina na produção roqueira sulafricana era incrivelmente forte. Se hoje ainda temos criaturas fabricadas pela indústria e que ganham espaço apenas pelos atributos físicos, à época, por aqueles lados, era preciso ter talento de fato, e ainda sim, era deveras árduo conseguir um bom espaço, já que rock era tido como música marginal. Logo, viam-se na obrigação de sair daquele ambiente conservador, racista e machista, para tentarem a sorte em outros lugares do mundo. E foi justamente o que aconteceu com a tecladista Cherry Wainer e as cantoras Sharon Tandy e Dana Vallery; o produtor Frank Fenter; os ex-Vikings, Manfred Lubovitz (Manfred Mann) e Harry Miller (King Crimson); Blondie Chaplin e Ricky Fataar (The Beach Boys), John Kongs e outros tantos que se mudavam para a Inglaterra, Canadá, EUA e Australia.


SHARON TANDY, diva sulafricana, de origem judaica,
que teve o apoio de muita gente de peso, como Jimmy Page e Isaac Hayes.



Êxodos à parte, muito das preciosidades roqueiras redescobertas pelo mundo através da internet, vieram da África do Sul: June Dyer, John E. Sharpe & The Squiers, The A-Cads, The Giants, The Couriers, The Gonks, The Invaders (primeira banda rockeira só de músicos negros) e muitos outros mais, são apenas uma parte dos nomes que então fomentavam a rebeldia juvenil. Todavia, se muitos de lá saim, para lá outros tantos iam para a sorte tentar, como Mickie Most, Bill Kimber e Dickie Lodder, e não obstante, tornavam-se verdadeiras estrelas regionais.



THE INVADERS,
primeira banda de rock multirracial da região,
formada por negros e indonésios.


DOS HIPPIES A 2010

Se muitos iam embora, outros tantos ficavam e tornavam-se um incômodo para o sistema, já que muitos dos valores propagados pela contracultura no final dos 60's, chegavam por lá também. Foi o caso do norte americano Sixto Rodriguez, um misterioso cantor de folk rock protesto, completo desconhecido em seu próprio país mas que tornou-se ídolo máximo na África do Sul, e causou muita dor de cabeça ao regime fascista. Outro caso é o de bandas como Freedom's Children e SUCK, que tocavam hardrock e psicodelia, para os quais já era prática comum passar uma ou mais noites no xilindró! Reza a lenda que suas apresentações por lugares públicos eram também palco de inflamadas panfletagens estudantis envoltas em verdadeiras nuvens de fumaça entorpecente.
Ademais, mesmo sendo produtiva entre os 70 e 80, à exceção do pop açucarado do 4 Jacks & A Jill, da easy listening do maestro Dan Hill, de punks como Radio Rats/Pop Guns e Fathoms Of Fire da new wave do Via Afrika, a cena sulafricana manteve-se carente de ícones, já que iniciava-se um processo de "clonagem" do que se fazia na Inglaterra e nos EUA. Logo, o maior nome de então foi a rádio Springbok que nunca deixou de rodar o que se produzia por lá, ainda que fossem só covers de rock importado e muitas novelas importadas da Austrália também.
Na segunda metade dos anos 90, com um giro maior da informação, os ventos da mudança sopravam e novos nomes surgiam, fundindo estilos consagrados como punk, gótico e metal, e muito do pop de seu tempo a elementos da world music, ocorria um "renascimento" na cena, e nomes como Springbok Nude Girls, Urban Creep, Matthew Van Der Want, Ashton Nyte etc tornariam-se figurinhas fáceis.
Nos dias de hoje, mesmo com bacaninhas da envergadura de Dave Matthews, BLK JKS, The Parlotones e 340ml (moçambicanos radicados em JHB), a África do Sul apresenta-se ao mundo como um celeiro incrivelmente produtivo em termos roqueiros, com sons para todos os públicos e gostos.

Por hoje é isso, caríssimos. Um grande abraço a todos e até a próxima!


CEDÊS:

CAZUMBI (No Smoke, Portugal)

CAZUMBI 1



CAZUMBI 2


Esta série conta a história do rock no continente africano, entre as décadas de 60 e 70. Mesmo que as bandas sejam em sua maioria da África do Sul ou de Moçambique, é possível deparar-nos com diversas pérolas de países como Angola, Congo, Gana e Costa do Marfim. Destaque especial para as sulafricanas John E. Sharpe & The Squires, The A-Cads e The Gonks, as moçambicanas Os Inflexos/Os Impacto, H2O, e a congolesa Les Krakmen.

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Artigo originalmente publicado no Jornal Folha do Estado, Cuiabá-MT, domingo, 20/06/2010.



segunda-feira, 7 de junho de 2010

blogue do Henhippie



Há pouco mais de uma semana, a blogsfera ganhou mais um entre tantos zilhões de blogues que povoam nosso infinito cyberspace: o Pihenrique’s Blog! Seria mais um, com certeza, não fosse ele criado e mantido por ninguém menos que o cuiabano Henrique Camargos.
Cansado de procurar uma editora para seu livro de poemas, poemetos e crônicas cônicas, nosso caro Henhippie (como é comumente conhecido) resolveu postar tudo em um blog. Conhecido por escrever tudo o que lhe vem na veneta, Henrique não se poupa e nem tampouco preocupa-se em reler ou filtrar, apenas passa o seu recado, doa a que doar.
Morador do Coxipó, estudante de engenharia elétrica na UFMT, e um dos cabeças da Fraternidade Cultural OCT, Camargos é também um escritor que a cada novo texto revela-se um legítimo cronista urbano de nosso Cuiabá, ainda que tantos se arrisquem por esses meandros.
No entanto, é bom lembrarmos que não se trata de uma página de fã ensandecido com alguma frivolidade do momento ou um rompante passageiro de exposição pública, mas da vontade de um jovem em passar o seu recado, mesmo que de forma tão urgente a ponto de engolir pontos, vírgulas e inúmeras regras da boa ortografia e da sintaxe canônica. Fã devotado de Arnaldo Baptista, Johnny Thunders e Tom Waits, e ávido leitor de Paulo Leminski e F.W. Nietszche, Henrique despeja suas influências em todos seus escritos e, por que não (?!), na exposição de suas ideias também.
Não nos cabe discutir aqui o valor literário e o quanto cada um de nós pode se identificar com seus escritos, mas a atitude em “meter as caras” e produzir algo que, certamente, há de muito crescer, ainda mais quando levamos em conta a profusão de modinhas macabras e da nefasta lobotomia feita nas cabeças de nossos jovens.
Conheçam o blogue do Henrique:
http://pihenrique.wordpress.com/
E, é claro, confiram este e outros tantos reviews mais deste que aqui escreve, no http://colunasdomax.blogspot.com
Um grande abraço a todos e até a próxima!!!



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Artigo originalmente publicado no Jornal Folha do Estado, Cuiabá-MT, domingo, 06/06/2010.

domingo, 30 de maio de 2010

TROLOLOLOLOLO



De um tempo pra cá, tem rodado pela internet um vídeo viral no qual um homem muito bem vestido, de cabelo ajeitado, sorriso doidão e uma presença no melhor estilo Silvio Santos, aparece cantando uma música sem letra, cuja melodia pega na cabeça de quem ouve. Trata-se do famigerado video do "trlolololo" ou "trololó", gravado em meados da década de 70 pelo barítono russo Eduard Anatolyevich Khil.

Eduard Khil foi um cantor de bastante renome na antiga União Soviética. queridinho do governo vermelho, cantava por toda parte, desde canções tradicionais até hinos nacionais e canções do Partidão.
Nascido em setembro de 1934, na cidade de Smolensk do Oeste (pertinho da Polônia e da Lituânia), Khil graduou-se em canto, aos 25 anos, pelo Conservatório de Leningrado. Fez um grande sucesso nas décadas de 60 e 70 cantando canções de Arkady Ostrovsky, Andrey Petrov e outros tantos. Entre 1977 e 1980, lecionou canto na Academia de Artes de são Petesburgo, e no meio da década de 80, aos poucos, sua carreira foi amornando. Não demorou muito e Eduard Khil mudou-se para França, tendo ido viver tranquilamente em Paris, onde montou seu próprio Caffe.


Seu reaparecimento na mídia eslava esboçou algumas voltas, dentre as quais quando passou a participar da banda de retro-pop de seus filhos, Prepinaki, na segunda metade dos anos 90. No entanto, foi somente no começo de 2010 que os holofotes se voltaram para sua pessoa, já que alguem, em algum canto do mundo, postou pelo youtube um video um tanto bizarro que acabou sendo batizado de "trolololo", uma onomatopéia para seu canto, já que a música era desprovida de letra.
Obviamente, a música nunca se chamou "trolololo", mas "Я очень рад, ведь я, наконец, возвращаюсь домой", o que em tradução livre quer dizer algo como "Eu estou muito feliz de poder voltar para casa", uma canção bastante popular no leste europeu.
Tamanho o sucesso que essa história de "trololololo" fez que uma turma de fãs pôs no ar um site onde pode ver e ouvir incessatemente o famoso vídeo e também assinar uma petição para que Eduad Khil faça uma tournée mundial. Segundo o próprio Khil, o sucesso do vídeo foi a maior e mais louca surpresa que ele ja teve em sua vida! Que venha logo para o Brasil e também dê as caras por aqui!



Site oficial: http://edhill.narod.ru/
(está todo em alfabeto cirílico, mas as fotos de época são ótima)

Fansites: http://trololololololololololo.com/ e http://eduardkhil.blogspot.com/

Um grande abraço a todos e até a próxima semana.


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Artigo originalmente publicado no Jornal Folha do Estado, Cuiabá-MT, domingo, 29/05/2010.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

DIO SANTO!


Domingo passado uma notícia tomou conta do meio roqueiro: o passamento de Ronnie James Dio para o outro lado da vida, vítima de um câncer no estômago. Foi um choque, não só para fãs, mas para todos aqueles que o respeitavam e admiravam sua carreira, pautada por uma estrada de mais de 50 anos. Tudo bem que o Iuri Simples já publicou algo a respeito por essas páginas, mas assim mesmo, não poderíamos ficar de fora, e assim mesmo vamos dar nosso recado, ainda que soe como uma Missa de Sétimo Dia, pois a coluna de hoje homenageia (ainda que singelamente) essa figura que foi e que sempre será Ronnie James Dio.

O Começo
Ronald James Padavona nasceu em uma pequena cidade perto de Boston, Estados Unidos, no dia 10 de julho de 1942. De origem italiana, foi criado dentro da religião católica, à qual aprendeu a questionar e criticar. Na música, começou ainda menino tocando trompa e trumpete na banda do colégio. Aos 15 anos junto-se a colegas de escola e formou a banda The Vegas Kings, que passaria por outros dois nomes diferentes: Ronnie & The Rumblers e Ronnie & The Redcaps; até finalmente se chamar Ronnie Dio & The Prophets, em 1962, quando pela primeira vez usou o nome artístico Dio, inspirado no mafioso Johnny Dio. Entre 62 e 67, À frente do The Prophets, como baixista e vocalista, gravou uma série de singles e um lp ao vivo. Apesar da qualidade precária das fitas já deterioradas pelo tempo, sua qualidade musical fica bastante clara, já que se tratava de um misto de rock primitivo com doowop (algo comum em artistas ítalo-americanos), um meio-termo entre Dean Martin, Dion DiMucci, Jack Scott e Roy Orbinson.

Dio, nos idos de 65

Em 1967, com a vinda do movimento hippie, Dio e o guitarrista Nick Pantas, formam a banda The Electric Elves e entram de cabeça no rock garageiro psicodélico. Em pouco tempo, a banda muda seu nome para The Elves e, finalmente, em 1969, passa a se chamar apenas Elf. Tocavam, além de um bom material autoral, clássicos do The Who (fase Tommy), Jehtro Tull e, é claro, a "War Pigs" do Black Sabbath. Tornaram-se a banda de abertura para o Deep Purple que, aliás, os apadrinhara de fato, já que em 1974 Dio participou como cantor no disco "The Butterfly Ball And The Grasshopper's Feat" do tecladista Roger Glover.

Rainbow
No entanto, em 1975, o guitarrista Nick Pantas, parceiro de Dio desde 1958, morre em um acidente automobilístico. No mesmo período, Ritchie Blackmore sai do Deep Purple para formar uma nova banda e para tal chama Dio e seus elfos remanescentes para começarem o Rainbow.
Sem titubear, de cara já lançam o primeiro disco, o que nos 4 anos seguintes se sucederia com mais 3 grandes albuns.

Black Sabbath
Por divergências artísticas, Dio sai do Rainbow. Na mesma época, Ozzy Osbourne também deixava o Black Sabbath. Por recomendação de Sharon Arden (atual Sharon Osbourne), filha do empresário da banda, Dio é chamado para preencher a vaga de cantor. Segundo o guitarrista Tony Iommi, a entrada de Dio causou uma reviravolta na casa, já que este tinha voz, técnica e atitude completamente diferentes de seu antecessor Ozzy, o que além de ser uma injeção de sangue novo, impulsionou a composição de material novo. Entre 80 e 82 fizeram dois discos de estúdio: Heaven And Hell e Mob Rules; e um excelente album ao vivo: Live Evil. O lineup Tony Iommi, Geezer Butler, Vinnie Appice e Ron James Dio, marcou pungentemente a história da banda, uma vez que foi com Dio que se popularizou o sinal dos "chifrinhos" com os dedos, já que Ozzy fazia o sinal de "paz e amor". Segundo o próprio, quem costumava fazer esse sinal era sua avó, para espantar "mau olhado".
No final de 1990, Dio voltou para o Black Sabbath e dois anos mais tarde lançaram "Dehumanizer", o mais bem sucedido disco da banda em muitos anos e que emplacou hits como "Time Machine" e "TV Crimes".

Dio
Em 1982, após deixar o Black Sabbath, Dio e seu colega de banda, o baterista Vinnie Appice, formam enfim o Dio, banda que tem nome o apelido de seu fundador. Durante um período de 25 anos, tendo apena Ronnie James Dio como integrante fixo, a banda tornou-se cultuada. Lançaram uma média de 25 discos, entre material de estúdio, ao vivo e coletâneas. Tocaram pelo mundo todo e inclusive fizeram até mesmo um disco metal para arrecadar fundos para ajudar na luta contra a fome na África. Aliás, o próprio dio sempre foi um sujeito engajado em causas sociais, já que ultimamente estava em uma campanha contra a exploração sexual de menores.

Heaven And Hell
Não fazia muito o Black Sabbath havia voltado com sua formação original: Tony Iommi, Geezer Butler, Ozzy Osbourne e Bill Ward. No entanto, a banda entrou em "férias" e Ozzy retomou sua carreira solo. Em A Rhino Records relançou um boxset com todos os discos da fase Dio e a banda, uma coletânea chamada "Black Sabbath: The Dio Years" para a qual a formação de 1980 se reuniu para gravar quatro músicas. A banda então seguiu mundo afora, mas desta vez sob o nome de Heaven And Hell, uma forma de homenagear o antológico álbum do Black Sabbath que apresentara Dio ao seu público. Tocaram inclusive pelo Brasil em 2009. Mantiveram-se firmes na estrada, até o último dia 5, quando Dio precisou ser hospitalizado.
O Final
Será que há?!

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Artigo originalmente publicado no Jornal Folha do Estado, Cuiabá-MT, domingo, 23/05/2010.

sábado, 22 de maio de 2010

THE NEDERBEAT, o Rock de Tamancos

The Shocking Blue


Certa vez, há mais de um ano atrás publicamos aqui uma matéria especial sobre o indo-rock, e por incontáveis vezes o famoso país das Terras Baixas foi citado por aqui.
Pois bem, hoje esta coluna volta novamente suas atenções para a Holanda já que, bem ou mal, o rock daquela área é uma constante em nossas vidas, haja vista sua influência em boa parte das coisas que curtimos, seja na música do eterno Nirvana, seja em algum filme do Tarantino.



RECAPITULANDO...

THE TIELMAN BROTHERS


O rock holandês nasceu de fato graças aos jovens de origem indonésia que, à sua maneira, combinavam o kratchang (um tipo de música regional indo-malaia) com o blues norte-americano de que eram fãs e muita surf music instrumental, para fazerem um tipo visceral de rock que só seria (re)descoberto pelo mundo nos tempos da internet e do youtube (vide o caso dos video-clipes dos Tielman Brothers).



THE NEDERBEAT

É claro que por lá existiam bravos rockeiros como Peter Koelewijn e as Melody Sisters, que faziam rockabilly em holandês, mas foram mesmo os bravos indonésios que literalmente fizeram o rock incendiar por aqueles prados. Já na metade dos 60, como a cena indo rock ia se enfraquecendo, as bandas passavam a ceder o talento de seus músicos para uma cena que então surgia, a Nederbeat, cujo epicentro se deu na cidade de Den Hague, de onde aliás, emergira a maior parte das bandas de indo-rock. No entanto, o grande difusor de toda esta cultura alternativa foi a radio Veronica, um rádio offshore que funcionava a partir de um barco ancorado há várias milhas da costa holandesa, e que rodava tudo o que as rádios legalizadas do continente não rodavam.
Dos nomes que mais se destacaram nesta cena, alguns nos são até bem conhecidos. A saber...



OUTSIDERS


Liderada pelo cantor Wally Tax, foi primeira banda da cena a alcançar alguma projeção fora dos Países Baixos. Emplacaram clássicos como Lying all the time, Keep on trying e Touch. Reuniram-se em 1997, após vinte e sete anos. Por diversas vezes, Kurt Cobain tentou encontrar-se com seu ídolo Wally Tax, mas por conta das agendas de ambos, isso nunca se concretizou. Tax morreu em 2005.





Q65


Figurinha fácil em todas as coletâneas de rock holandês, o Q65 ganhou notoriedade por seu som rápido, cru, preciso e extremamente bem trabalhado. Reunem-se frequentemente para tocar nos mais diversos lugares da holanda. Destaque especial para as músicas "The Victor", "I Despise You", "The Life I Live" e "Ann". São amados e respeitados pelas mais diversas correntes sonoras da Holanda, desde os irmãos Van Hallen até os psychobilly do Batmobille e dos Cenobites, passando pelo punk dos Bambix.



GOLDEN EARRINGS


Esta foi a primeira banda a emplacar nas paradas da Inglaterra e dos Estados Unidos, e continua na ativa até os dias de hoje. Começaram com o single "Please, Go" em '65, e sucederam com "That", "Dong Dong Diki Digi Dong" e outras tantas. Nos anos '70, "Radar Love" tornou-se o seu carro chefe.





SHOCKING BLUE


Certamente a mais lembrada da bandas da cena. Iniciaram como um quarteto masculino e gravaram apenas um disco nesta formação. Em seguida, após recrutarem a cigana Mariska Veres como sua crooner, a carreira da banda deslanchou! "Venus", "Send Me A Postcard", "Waterloo" e "Love Buzz" (a mesma que o Nirvana regravou) são apenas alguns de seus inúmeros hits. Infelizmente, em 2006, Mariska Veres passou para o outro lado, mas legou sua influência a tantas outras cantoras que o rock haveria de produzir nos anos seguintes.





GEORGE BAKER SELECTION


Quem assistiu o filme "Cães de Aluguel", de Quentin Tarantino, certamente se lembrará da música de abertura em que todos os personagens eram apresentados. Era "Little Green Bag", cantada por Johannes Bouwens, ou simplesmente George Baker, que também emplacou no começo dos '70 pérolas kitch do sunshine pop como "Una Paloma Blanca" e "Fly Away Little Paraguayo".


THE HUNTERS

Eis a banda onde o guitarrista Jan Akkerman (Focus) começou suas atividades. Aliás, alguém se lembra que ele já veio tocar em Cuiabá?! É uma pena que a divulgação pífia e a curadoria precária das bandas para abertura de seu show, tenham contribuído para seu esquecimento entre nós. Uma lástima, já que se trata de história viva do rock.


Outros nomes que também não poderíamos deixar de citar são: The Motions, Ro-d-ys, Bumble Bees, The Shoes, Les Baroques e Cuby & the Blizzards, entre tantos outros grandes; mas que por conta do espaço de hoje, ainda aparecerão em uma outra edição da coluna do Max.

Por hoje é isso, caríssimos. Semana que vem tem mais. Um grande abraço a todos e até lá!

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Artigo originalmente publicado no Jornal Folha do Estado, Cuiabá-MT, domingo, 09/05/2010.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

THE VARUKERS, UK82, D-Beat etc




Esse tal de UK82 foi uma cena bastante curiosa que aconteceu no punk britânico no começo dos anos 80, uma época em que muitos dos pioneiros do gênero descambavam para a new wave e outras tantas linhas sonoras e culturais. O nome em si vem do título de uma música da banda escocesa The Exploited (a mesma que em 1993 foi regravada por Slayer e Ice T) e também diz respeito a uma época complicada na história recente do Reino Unido, quando muitos jovens foram enviados para matar e morrer na Guerra das Malvinas (disso trata o disco "Let's Start A War" do Exploited). Uma das características principais desse estilo foram a sonoridade mais agressiva, bastante influenciada pela nova geração britânica do metal, principalmente Motörhead, e o teor de suas letras que atacavam escancaradamente monstros como o holocausto nuclear, a guerra, os políticos, o desemprego etc. Seus principais nomes foram/são: The Exploited, GBH, Chaos UK, Broken Bones, Discharge, Anti-Nowhere League, English Dogs, The Blitz, Doom, The Partisans, Vice Squad, Abrasive Wheels, One Way System, The Violators, Disorder, Dogsflesh, e, é claro, The Varukers.
O mais interessante é que quase todas essas bandas continuam na ativa até hoje. Tudo bem que não contam mais com suas formações originais, já que a rotatividade de integrantes é uma constante, ainda mais quando pertencem a uma mesma cena. Logo, hoje em dia, a maior parte desses grupos contam geralmente com apenas um membro-fundador, ou em alguns casos, como o Discharge e o Napalm Death, nenhum integrante original, somente uma tradição sonora preservada por músicos de outras gerações.
O The Varukers, banda da cena que se encontra em tour pelo Brasil, é um belo exemplo pois mesmo tendo apenas o vocalista Rat, da sua fundação, mantém-se fiel às suas raízes de 30 anos atrás. Tiveram uma estrada intensa de 1980 a 1988, quando se separaram pela primeira vez. Cinco anos mais tarde Rat reformulou a banda, desta vez com o apoio de integrantes do Discharge (da qual Rat faz parte) e do Chaos UK. Por outras duas vezes vieram ao Brasil: 1999 e 2003. Sem frescuras, tocam onde são chamados, tanto é que foi uma das bandas gringas que mais circulou o interior do país.


Varukers no Centro-Oeste

VARUKERS em BRASILIA - foto: The Cave


Sua escala no centro-oeste deu-se em Brasilia, no último dia 17, com um show impecável no Porão do Conic. Foram muito bem recebidos pelo público e pelas três bandas bandas de abertura. A primeira, chamada Murro No Olho, tocava uma vertente mais pesada e rápida de hardcore europeu, merecia destaque pela baixista Amanda, uma única lady entre tantos marmanjos que rufava a casa com o som de seu instrumento. A segunda, Possuídos Pelo Cão, esmerilhava a casa com um crossover da melhor qualidade, fortemente influenciado por Discharge, DRI e MDC. A terceira, Os Maltrapilhos, punham mais lenha na fogueira para um show que ainda daria muito pano para as mangas, tocaram seu punk rock tradicional e contaram com um público fiel que cantava todas suas músicas (eles inclusive já tocaram em nossa amada Cuiabá).
E os Varukers então sobem ao palco. Apesar de o baixista Marvin não ter podido tocar nesta tour, quem segurou direitinho as pontas foi o brasileiro Fralda (ex-BlindPigs, RDP e Forgotten Boys, e atual Lobotomia). A platéia se quebrava em pogos, wreckings e slams, enquanto a banda destilava a pauleira em clássicos como "Soldier Boy", "Murder", "I Don't Wanna Be a Victim", entre outros.

Enfim, o que tivemos foi um grande show de uma grande banda, que nos alimenta a esperança de que o rock tem salvação, sim, apesar do insuportável mundinho indie e das inúmeras aberrações coloridas que têm tomado de assalto nossos dias. Os Varukers merecem vir a Cuiabá e o público cuiabano merece conhecer os Varukers, um dia desses, quem sabe.


ThiaGoiás, RAT & Max Merege




Agradecimentos: Mundano Produções e Bianca Bulimia por viabilizarem nosso acesso.



Cedês:

The Squintz - Violent World



Banda da Cena candanga que a cada dia tem se destacado mais pelo Brasil e exterior.
Formada ainda em 2009, após reencontro de dois velhos amigos de infância: Moa (guitarra e voz) e Caio (guitarra e voz); conta ainda com seus "droogs" Hery (baixo) e Sonic (bateria). Mandando ver em um som fortemente influenciado pelo punk inglês dos Adicts, The Clash, Cocksparrer e Buzzcocks, mais uma pitada pesada de mod-revival, que conferem aos Squintz uma pegada forte, típica de quem sabe para que veio. http://www.myspace.com/thesquintz1977



Boobarellas - Desamor


À primeira ouvida pode soar como um misto de punkpink pirulito com hardrock farofa, mas trata-se de um som muito do honesto!
Boobarellas é uma banda paranaense radicada em São Paulo que já pode até debutar, pois são quinze anos tocando e experimentando os altos e baixos de uma carreira. Encabeçada pelo guitarrista Guile Jow, já teve inúmeras formações, mas sempre bucando se aprimorar. Este cedê é uma boa lição para bandinhas de adultos metidos a meninos e grupinhos de crianças choronas, que têm infestado nossa mídia ultimamente. Um disco muito bem dosado em suas seis faixas, que aborda com sinceridade temas ligados à vida comum e à idéia de se fazer o que realmente gosta. http://www.myspace.com/boobarellas


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Artigo originalmente publicado no Jornal Folha do Estado, Cuiabá-MT, domingo, 25/04/2010.


quarta-feira, 14 de abril de 2010

ABBA



Na história do pop ocidental, inúmeros lançaram maravilhosas pérolas sonoras, mas poucos atingiram a perfeição absoluta, ainda mais se tratando de uma trupe que gravava sua músicas em uma língua que sequer era a sua língua materna. Pois bem, estou falando do ABBA, o maior nome do pop escandinavo!
Apesar de serem um ícone dos anos 70, e erroneamente associada à disco music, sua história data da década de 60, já que seus quatro integrantes eram egressos da cena mod sueca e contavam com um vasto material pregresso gravado.
Dos meninos, Benny Anderson, o tecladista, fazia parte da banda The HepStars, cuja especialidade era combinar o mod de caras como The Who e Kinks com Phil spector e muita psicodelia; Björn Ulvaeus era guitarrista e cantava em uma banda de folk rock chamada The Hootenanny Singers, até entrar para os HepStars em seus últimos anos.
Das meninas, Frida Lyngstadt, a ruiva carismática, na verdade era natural da Noroega, filha do romance de uma camponesa com um sargento do exército alemão, lançara-se cedo na canção e aos 13 já era uma voz bastante conhecida pela Suécia, mas o sucesso só viria mesmo em 1967 ao aparecer em cadeia nacional de televisão. Agnetha Faltskog, a loirinha "batateira", também começara muito cedo e aos 17 anos já tinha até disco gravado.
Um quinto membro era o visionário produtor Stig Anderson que, além de ser o grande elo de ligação entre todos, foi um brilhante estrategista que fez com que o ABBA devorasse o mundo pelas "beiradas"; isto é, nada de ter que fazer tour pelos EUA e correr todas as rádios para divulgar seu trabalho, mas ganhar a Europa, o Japão e, principalmente, a Austrália.
Em 1970, a dupla Benny e Björn juntou-se para gravar o álbum "Lycka" que, curiosamente, contava com o apoio vocal de suas noivas: Frida e Agnetha. A experiência deu certo e logo em seguida fizeram dois discos com o nome de "Björn & Benny, Agnetha & Anni-Frid", o que logo mais passaria a se chamar ABBA, uma sigla para Agnetha, Björn, Benny e Anni-Frida.
Em 1974, no esteio da onda glam, lançam-se no Eurovision Song Contest, que ocorria na Inglaterra, com a música "Waterloo". Sim, o ABBA vencia aquele festival, mas seus singles posteriores não conseguiam se sair muito bem nas vendagens. Entretanto, foi somente no ano seguinte, após fazerem o disco Frida Ensam que conseguiram realmente emplacar nas paradas, pois saía o disco ABBA, com hits como "Mamma Mia", "I Do, I Do, I Do, I Do, I Do", "SOS", "Bang-A-Boomerang" e "Rock Me".
Em 1976 foi a vez do álbum "Arrival", contendo os sucessos "Money, Money, Money", "Knowing Me, Knowing You" e um presente para a Rainha Silvia, "Dancing Queen". Em 1977 repetiam a dose com The Album, o qual vinha com os hits "The Name Of The Game", "Take A Chance On Me", e "Thank You For The Music".
Durante os dois últimos anos da década, o ABBA gozava do status de mega stars e outros grandes sucessos vinham. "Summer Night City", "Chiquitita", "Does Your Mother Know", "Voulez-Vous", "I Have A Dream" e "Gimme! Gimme! Gimme! (A Man After Midnight)". Isso rendeu-lhes uma bela turnê pelos Estados Unidos e Canadá, lotando estádios e tudo mais, e só no Reino Unido, seguiam firmemente emplacados nas paradas havia quatro anos já, perdendo apenas para os Beatles. A decada se encerrava e até 1979, 150.000.000 de discos do ABBA tinham circulado pelas lojas de todo o planeta.
No começo da década de 80, os casamentos começam a ruir e o ABBA, como um grupo, dá seu último suspiro com o disco "Super Trooper". A banda acabou, mas todos continuaram suas carreiras separadamente, e com muito êxito.
Benny e Björn, até hoje são melhores amigos e mantém a parceria, tendo inclusive aparecido no filme "Mamma Mia", uma bela adaptação para as canções do ABBA sob a forma de dramaturgia. Aliás, no lançamento desse filme, Frida e Agnetha se encontraram com Merryl Strip e fizeram uma breve dancinha para delírio do público.
Se você quer ver mais sobre o ABBA, acesse o site: http://colunasdomax.blogspot.com

domingo, 7 de março de 2010

POR QUE TARANTINO É FODINHA ???!!!



Hoje, como já é sabido, é dia do Oscar, a “maior” premiação da Sétima Arte no mundo. Tudo bem que em grande parte das vezes isso não passa de uma tremenda marmelada cujo objetivo maior é promover os estúdios que melhor pagam a veiculação de seus produtos. Entretanto, muita coisa boa acaba rolando, mesmo que não fature a tão sonhada estatueta, e isso é uma constante.O nosso “homenageado” de hoje, Quentin Tarantino, é um sujeito que há muito já deveria ter figurado por esta coluna, uma vez que tem muito a ver com a maior parte dos sons que aqui citamos, inclusive os brasileiros, e também por ter faturado uma estatueta em 1995 pelo roteiro de “Pulp Fiction”.

Vincent Manero?!


É verdade, muita gente aqui pulou de alegria e êxtase no idos de 94/95 com a trilha sonora de “Pulp Fiction”, já que muitos daqueles sons (senão a maior parte) eram coisas realmente difíceis de se conseguir por estes prados, ainda porque nem existia a possibilidade de baixarmos sons pela internet. Não era pra menos, o disco em si começava do mesmo jeito que o filme, o casal Pumpkin e Honey-bunny (Tim Roth e Amanda Plummer) iniciavam o assalto à cafeteria onde Vincent Vega e Jules Winfield faziam seu breakfest após um exaustivo expediente, e em seguida entrava uma melodia grega tocada por uma legítima Fender Stratocaster: “Misirlou”, de Dick Dale; a mais lembrada de todas. Uma trilha sonora PERFEITA, formada por músicas escolhidas a dedo pelo próprio Tarantino, onde clássicos do surf-instro como Centurians, Link Wray, Lively Ones, Tornadoes, The Revels, The Markets e outros tantos dividem harmoniosamente seu espaço com medalhões da black music - Kool & The Gang e Al Green; folk rockers - Dusty Springfield, Maria McKee e Satler Brothers; e astros consagrados - Chuck Berry, Rick Nelson e Neil Diamond (regravado pela então revelação, Urge Overkill).


Cães de Aluguel, ao som de
"Little Green Bag", de George Baker Selection



Exageros à parte, mesmo contendo muita coisa antiga, sua trilha sonora foi um sopro de renovação e uma lição para todos aqueles que desejavam boa música e sentiam-se constipados com as idiotices veiculadas pelo rádio (se naquela época o rádio era ruim, o pior ainda estava por vir), e foi graças a esse frenesi que a rapaziada começou a pesquisar mais e buscar por outras coisas daquele “estreante”; vide o caso de “Amor À Queima Roupa” e “Assassinos Por Natureza” (True Romance e Natural Born Killers), que apenas foram escritos por ele; e “Cães de Aluguel” (Reservoir Dogs), escrito, dirigido e atuado pelo próprio.
Tanto em “Amor...” quanto em “Assassinos...”, Q.T. sentiuse um tanto quanto “desvirtuado”, mas ainda assim podíamos sentir pungentes suas referências sonoras e culturais, como o predileção da Alabama (Patricia Arquette) por Phill Spector e o Elvis (Val Kilmer) de Clarence (Christian Slater) a dar-lhe conselhos, ou até mesmo a saga de Mick e Mallory (Woody Harelson e Juliette Lewis) permeada por canções do disco “The Future” de Leonard Cohen.
Assim, tanto “Cães de Aluguel” como “Jackie Brown” fazem sua clara homenagem aos seventies. Em “Cães...” podemos destacar o nederbeat pulsante da George Baker Selection tocando “Little Green Bag”, o folk rock dos escoceses do Stealers Wheel com “Stuck In the Middle With You” e a bela “Coconut” de Harry Nilson. Em “Jackie Brown”, além da protagonista vivida pela musa black, Pam Grier, podemos ouvir pérolas como clássicos dos DelPhonics, The Association até mesmo do homem de preto, Johnny Cash.

Uma Thurman: A noiva em ação, em KiLL BiLL


Passados seis anos, em 2003 Q.T. volta à ativa como diretor e roteirista em Kill Bill 1 e 2, onde faz uma clara homenagem ao faroeste italiano de nossas inesquecíveis Sessões da Tarde (Leone, Fulcci, Corbucci etc), bem como aos antológicos filmes de kungfu e samurais da Shaw Brothers e dos estúdios Toey, que costumávamos assistir toda terça feira no Poltrona R (“O Clan da Lótus Branca”, “Os Cinco Dedos da Morte”, “O Guerreiro de Um Só Braço Contra O Mestre da Guilhotina Voadora”, “The Original Street Fighter”, “O Jogo da Morte”, “Lady Snowblood” etc). A trilha sonora não ficava atrás, já que podíamos ouvir de tudo um pouco; desde pérolas do spaghetti western (Morricone, Ortolani, Bacalov, Micallizzi etc) até hip-hops furiosos (Wu-Tang Clan), passando por maravilhas da black music instrumental (Isaac Hayes), relíquias do kraut alemão (Neu!), delícias do pop sessentista inglês (The Zombies) e rockabillies e hillbillies também (Charlie Feathers, Johnny Cash etc).
Em 2006, foi lançado lá fora o filme “À Prova de Morte” (Death Proof), uma clara homenagem ao clássico “Faster Pussycat, Kill!!! Kill!!!”, de Russ Meyer, e cuja trilha sonora também é permeada por acepipes sonoros do naipe de “Hold Tight”, da banda Dave Dee, Dozy, Beaky, Mick & Tich, e de “The Love You Save”, de Joe Tex. Como este filme (por razões completamente misteriosas) até agora não saiu no Brasil, apenas os fãs mais aficcionados tiveram acesso, principalmente via internet.
Pois bem, o que acontece é que há pouquíssimo tempo (na segunda metade do ano passado) Tarantino lançou mais um clássico do divertimento familiar: “Os Bastardos Inglórios” (The Inglorious Basterds); que no esteio dos demais, presta uma bela homenagem ao cinema em si, seja pelo enredo claramente inspirado em filmes como “Os Doze Condenados” e “A Cruz de Ferro”, seja pela trilha sonora. Aliás, é bom lembrar que Q.T. convidou Ennio Morricone para compor sua trilha, mas por incompatibilidade de agenda, o Maestro achou melhor declinar do convite. Mas isso não foi problema, já que muitas de suas composições e de outros grandes nomes, como David Bowie mesmo, também figuram nas cenas deste filme que hoje concorre a oito Oscars.


Agora, respondendo à pergunta do título, Quentin Tarantino é F**A simplesmente porque, como ninguém, consegue resgatar e sintetizar magistralmente peças cruciais do intrincado quebracabeças que está em nossa formação cultural e que os pudores estéticos da crítica dita especializada e da ditadura do politicamente correto sempre fizeram questão de rechaçar. Ademais, o lance hoje é grudar a cara na tevê e torcer para que este filme fature muitos e muitos bonequinhos!

Max Merege, além de roqueiro, ama e respeita cinema bem mais que muito cineasta de nariz empinado.



Que tal um drinque no inferno????


Bonequinhos.........

segunda-feira, 1 de março de 2010

CHRIS MURRAY: SIMPLES ATÉ A MEDULA



Qual é a primeira coisa que você pensa antes de ir a show de reggae? Talvez você pense em pessoas de orientação ratafari, com dreadloks até os pés, fumando toras de maconha, vestidos com camisetas do Bob Marley, com bolsas e chapéus nas cores da Jamaica e devaneando sobre toda sorte de assunto que fuja à nossa compreensão cartesiana. Bem, então é bom que esqueçamos de tudo isso e lembremos que reggae, além de música e estilo de vida, é um estado de espírito que vai muito mais além do que supõe nossa vã filosofia...

O artista em questão é um branquela canadense, desses magricelas que raramente viram o sol na infância, mas que manda tão bem no reggae, ska e rocksteady quanto qualquer jamaicano nativo. Chama-se Chris Murray e volta e meia ele vem tocar pelo Brasil e por toda América do Sul. Ano passado mesmo ele esteve por aqui e foi super bem falado por público e crítica.
Mesmo morando em Los Angeles, a melhor definição para ele talvez seja a de um cigano sonoro já que a cada dia ele está tocando em algum canto remoto do mundo. E sabe qual é a parte mais impressionante de tudo isso? É que ele não costuma escrever um setlist das músicas que vai tocar, mas sim, segue o que o público pede.
Filho de pais músicos, Chris Murray, desde cedo viu-se envolvido neste admirável mundo artístico. Fosse por sua mãe tocando velhas pérolas caribenhas ao piano, ou por seu pai, um exímio apreciador de jazz. Contudo, a parte que mais lhe tocaria os ouvidos e a alma viria entre os 10 e 15 anos, a partir de alusões britânicas à música jamaicana, por meio de clássicos como "Obladi-Oblada" com os Beatles, "I Shot The Sheriff" com Eric Clapton, "Dyier Maker" com Led Zeppelin, e por fim "One Step Beyond" com Madness, o que serviu de pontapé inicial para entender o que realmente queria tocar e apresentá-lo ao maravilhoso mundo do 2Tone.
Entre o final dos anos 80 e começo dos 90, Chris Murray encabeçou uma banda canadense chamada King Apparatus, que também foi um dos principais nomes do Ska 3rd Wave. Finda a banda, fez fama como um grande produtor. Por volta de 1993, conheceu pessoalmente os lendários Skatalites, em um festival na Inglaterra que também contava com nomes da envergadura de Selecter, Special Beat e The Toasters no pacote. Não demorou e tornou-se o manager da tour da lenda jamaicana pela escaldante Califórnia.


Ah, sim, Chris Murray já acompanhou muita gente de peso nos palcos, como Lloyd Knibb e Lloyd Brevett, dos Skatalites, Prince Buster, The Specials etc. E acaso ele se gaba disso?! Que nada! Tem muito orgulho, sim, e sente-se profundamente honrado por ter trabalhado com caras tão importantes, mas isso não o torna um esnobe ou qualquer tipo de estrelinha. Aliás, o ponto mais forte de tudo é que sua simplicidade, tanto como músico quanto uma pessoa comum, vão totalmente de encontro a este mundo formado por celebridades instantâneas e de glamour artificial que a cada dia tem-se feito mais e mais pungente; e, é claro, opõe-se também a esta ditadura que reza que para se fazer um bom trabalho, o músico precisa manter o "nariz empinado" e desgastar-se em um universo de técnicas inúteis. Tal qual sua obra, o supracitado artísta também é simples, pulsante e direto! Não faz muito, em dezembro do ano passado, enquanto passava uns dias em Curitiba, pude testemunhar isso. Eu já sabia que o tal do Chris Murray ia tocar por lá. Ouvira pouca coisa até então, o suficiente para saber que seria um bom divertimento, ainda mais porque o que eu e meu irmão queríamos mesmo era ver a banda de abertura: Rocksteady City Firm; encabeçada por meu velho amigo, o cantor Rodrigo Rodrigues. A banda estava maravilhosa! Tão boa que eu até me senti no Maranhão! Mas quando entrou Chris Murray, meus caros, aí sim o lugar pegou fogo! Configuração de palco, a mais simples possível: o próprio Chris Murray tocando violão e cantando, mais dois músicos brasileiros: Rodrigo Cerqueira (Firebug e Skuba) na bateria e Edu Sattajah (Leões de Israel e Brasilites) no upright-bass. Em poucas palavras, um legítimo powertrio! Sim, foi o show que faltava eu assistir para fechar 2009 com chave de ouro e certamente refletir mais acerca de se ter uma banda. Será que é preciso tanto equipamento, tanta técnica, tanto glamour e tanta pose para ser um astro?! Chris Murray, do modo mais simples possível, provou que não! Basta apenas saber o que quer tocar e tocar o ferro na boneca!

Por hoje é isso, queridos leitores. Próxima semana tem mais. Um grande abraço a todos.


Discografia básica:

com
King Apparatus: Loud Party (1989), King Apparatus (1991), Hospital Waiting Room (1992), Marbles (1993); em carreira solo: 4-Trackaganza! (2001), Raw (2002), 4-Track Adventures of Venice Shoreline Chris (2003), One Everything (2005), Slackness (2005, parceria com a banda The Slackers)
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Artigo originalmente publicado no Jornal Folha do Estado, Cuiabá-MT, domingo, 28/02/2010.


Videos de CHRIS MURRAY

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

ANTÔNIO ARNAUD RODRIGUES


Na última quarta feira de cinzas, o humor, a dramaturgia e a mpb, acordaram órfãos de um de seus maiores talentos nos últimos 50 anos: a morte de Arnaud Rodrigues! Foi na noite de terça feira ainda, quando o barco em que ele viajava com a esposa e dois netos, no Tocantins, naufragou. Seus familiares conseguiram ser salvos, mas ele não.

Talvez as lembranças mais comuns venham de "A Praça É Nossa", onde interpretou tipos inesquecíveis como o Cel. Totonho, o Povo Brasileiro e o Chitãoró; e de personagens que, em muitas vezes, roubavam a cena em novelas globais, como o ceguinho Jeremias, o personagem mais visionário de Roque Santeiro (1985), o Mr. Soul, de Partido Alto (1984) e o retirante Soró, de Pão-Pão Beijo-Beijo (1983); Soró, aliás, fez tanto sucesso que reapareceu no filme "Os Tapalhões e O Mágico de Oroz" (1984), cujo reteiro fora escrito pelo próprio.

Nos últimos dez anos, graças as facilidades da internet, sua obra musical ganhou um novo status e uma nova legião de fãs.

No começo da década de 70, Caetano Veloso e Gilberto Gil enfrentavam sérios problemas com a ditadura militar, como a prisão e, consequentemente, um exílio na Inglaterra. Solidários com a situação dos artistas, Arnaud Rodrigues e Chico Anísio firmaram uma forte parceria e encarnaram o grupo Baiano & Os Novos Caetanos, uma espécie de Monkees tropicalista. Arnaud vivia o Paulinho, e Chico, o Baiano. Sua idéia principal era homenagear de modo cômico os principais nomes do Tropicalismo: Os Novos Baianos, Gal Costa, Mutantes, e também Maria Betânia. A dupla lançou hits como “Vô Batê pa Tu” e “Urubu tá com Raiva do Boi”. Letras inteligentes e arranjos que casavam o tradicional da música regional com o pop moderno. Uma profusão de fusões de forrós, modas de viola e afins, recheados com guitarras distorcidas e efeitos psicodélicos, tudo possível graças à visão de Arnaud e aos arranjos de maestros como Nonato Buzar, Waltel Branco, Guto Graça Mello e outras feras mais. Feito a princípio como trilha de programa humorístico, o trabalho rendeu excelentes posições nas paradas de sucesso, já que refletia todo o momento por que passava o Brasil, como as delações, o progresso desenfreado, a crise nos valores humanos, a volta às raízes no campo etc. A empreitada deu certo e logo mais ele lançou "O Som do Paulinho", que seguia o mesmo espírito bucólico psicodélico da dupla e que trazia a lissérgica "Murituri".

Já nos anos 80, foi a vez da tele-dramaturgia e por conseguinte, a volta ao humor.

Lá pelo final dos anos 90, após uma visita ao Tocantins, gostou tanto do lugar que levou a família toda para lá morar. Continuou escrevendo para várias publicações e regularmente aparecia no programa "A Praça É Nossa", mas foi em Tocantins que ele passou a se dedicar a uma outra paixão: o futebol! Tornou-se cartola e ajudou o Palmas a se destacar no Campeonato Brasileiro e a conquistar um tricampeonato estadual.

Hoje, apenas dois discos de Baiano e Os Novos Caetanos são encontrados na forma digital "oficial" (a.k.a. cedê de loja), contudo, todos os demais trabalhos tornaram-se figurinhas fáceis pela internet, o que vale para se conhecer a obra, mas que em nada substitui o peso de um elepê.

Em termos artísticos, sua partida é uma perda tão grande quanto as mortes de Mussum e Zacarias. Antônio Arnaud Rodrigues foi, é e sempre será um mestre à frente de seu tempo e que descanse em paz onde estiver.


Vô batê pá tú
(Chico Anisio e Arnaud Rodrigues)

Falou, é isso aí malandro
Tem que se ligar aí nesse som, tá sabendo...
Eu vou bate pá tú, pá tu bate pá tua patota

Vou batê pá tu bate pá tú
Pá tú batê...

Pá amanhã a pá não me dizer
Que eu não bati pá tú
Pá tú pode batê

O caso é esse
Dizem que falam que não sei o que
Tá pá pintá ou tá pá acontecer
É papo de altas transações

Deduração, um cara louco
Que dançou com tudo
Entregação com dedo de veludo
Com quem não tenho grandes ligações

Vou batê pá tu bate pá tú...

Tá falado, tu tem que se ligar....
É isso aí, falou

Vou batê pá tu bate pá tú...


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Artigo originalmente publicado no Jornal Folha do Estado, Cuiabá-MT, domingo, 21/02/2010.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O REI do Samba


No samba "Já Te Digo", dos irmãos Pixinguinha e China, ele era descrito como "alto, magro, feio / e desdentado / que fala do mundo inteiro / e vive avacalhado / no Rio de Janeiro". Quando de seu velório, Manuel Bandeira assim escreveu: “A capelinha branca era muito exígua para conter todos quantos queriam bem ao Sinhô, tudo gente simples, malandros, soldados, marinheiros, donas de rende-vous baratos, meretrizes, chauffeurs, todos os sambistas de fama, os pretinhos dos choros dos botequins das ruas Júlio do Carmo e Benedito Hipólito (a zona do meretrício carioca), mulheres dos morros, baianas de tabuleiro, vendedores de modinhas... As flores estão num botequim em frente, prolongamento da câmara-ardente. Bebe-se desbragadamente. Um vai-vem incessante da capela para o botequim”. Já o historiador José Ramos Tinhorão atribui a ele a verdadeira partenidade daquilo que três décadas mais tarde se convencionaria a chamar de "bossa nova", graças à sua forma malandra de conduzir a harmonia no esquema "um banquinho e um violão".
Nascido José Barbosa da Silva, no Rio de Janeiro, dia 18 de setembro de 1888, Sinhô era filho de um conhecido pintor de paredes e fã das rodas de samba e choro. Desde criança teve um contato muito forte com a música. Aprendeu flauta, violão, piano e malandragem também!
Aos 17 anos casou-se com uma jovem portuguesa de sua vizinhança e até os 21 ele já era pai de três filhos. Para sustentar a família, trabalhava como demonstrador de piano em uma loja de instrumentos musicais - a histórica Casa Beethoven - e tocava por tudo quanto era lugar, desde refinados salões da alta sociedade até casas de rendezvous e moquifos afins, e em inúmeras agremiações dançantes, como a famosa Kananga do Japão (que inclusive virou novela no final dos anos 80).
Aos 26 enviuvou, e até o final de sua vida, casou-se por mais três vêzes. Uma de suas esposas chamava-se Cecília e também trabalhava como demonstradora na Casa Beethoven, tendo sido ela a primeira grande divulgadora de sua obra e responsável pelas primeiras transcrições de Sinhô para a forma de partitura.
Frequentador assíduo das rodas de samba da casa da bahiana Tia Ciata, Sinhô está entre aqueles que reclamavam para si a autoria de "Pelo Telefone", primeiro samba gravado da história e apresentado como se fosse da autoria de Donga e Mauro de Almeida. Em resposta, Sinhô compôs o samba "Quem São Eles". Trocas de farpas por todos os lados, desse período também é a marchinha carnavalesca "Tesourinha": "eu tenho uma tesourinha / que corta ouro e marfim / serve também pra cortar / línguas que falam de mim" .
Sinhô também era acusado de ser plagiador, acusação da qual se defendeu dizendo que "samba é igual a passarinho, é de quem pegar". Por conta disso, foi o primeiro artísta brasileiro a realmente se preocupar com direito autoral, pois tomava o cuidado de registrar todas suas composições em cartório e rubricar todos os seus discos.
Em 1921, lançou o samba "Fala Baixo", uma sacanagem com o então presidente Artur Bernardes. Não deu outra, teve que fugir por uns tempos para escapar da polícia. Aliás, mesmo sendo um talento excepcional, Sinhô tinha sérios problemas com a lei, pois além de ser um dedicado pai de família, também era um boêmio enveterado, pois muito do que ganhava acabava indo para suas noitadas, sendo que por muits vezes fugia de cobradores. Promovia muitas e muitas festas pelos inferninhos do Rio e, ainda por cima, na Noite Luso-Brasileira, no Teatro da República, em 1927, foi honrosamente agraciado com o título de Rei do Samba, que perdura até hoje. Sua vida desregrada, aliás, contribuiu em muito para que sua saúde se deteriorasse rapidamente. Em 1930, às vésperas de completar 42 anos, morre vítima de uma hemoptíase decorrente da tuberculose, no meio do caminho da barca que ligava a Ilha do Governador ao Rio de Janeiro.
Suas composições ajudaram a catapultar a carreira de monstros sagrados da mpb, como Carmem Miranda e Francisco Alves, e também tiveram nas vozes de Aracy Cortes e Mário Reis sua maior expressão. Afinal, "Jura" e "Gosto Que Me Enrosco" são apenas um pequeno exemplo de como sua obra continua incólume, mesmo após oito décadas de sua partida.

Por hoje é isso, caríssimos. Um bom carnaval a todos e até a próxima.

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Max Merege, além de roqueiro também vai se acabar na orgia neste carnaval




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Artigo originalmente publicado no Jornal Folha do Estado, Cuiabá-MT, domingo, 14/02/2010.