Esse tal de UK82 foi uma cena bastante curiosa que aconteceu no punk britânico no começo dos anos 80, uma época em que muitos dos pioneiros do gênero descambavam para a new wave e outras tantas linhas sonoras e culturais. O nome em si vem do título de uma música da banda escocesa The Exploited (a mesma que em 1993 foi regravada por Slayer e Ice T) e também diz respeito a uma época complicada na história recente do Reino Unido, quando muitos jovens foram enviados para matar e morrer na Guerra das Malvinas (disso trata o disco "Let's Start A War" do Exploited). Uma das características principais desse estilo foram a sonoridade mais agressiva, bastante influenciada pela nova geração britânica do metal, principalmente Motörhead, e o teor de suas letras que atacavam escancaradamente monstros como o holocausto nuclear, a guerra, os políticos, o desemprego etc. Seus principais nomes foram/são: The Exploited, GBH, Chaos UK, Broken Bones, Discharge, Anti-Nowhere League, English Dogs, The Blitz, Doom, The Partisans, Vice Squad, Abrasive Wheels, One Way System, The Violators, Disorder, Dogsflesh, e, é claro, The Varukers.
O mais interessante é que quase todas essas bandas continuam na ativa até hoje. Tudo bem que não contam mais com suas formações originais, já que a rotatividade de integrantes é uma constante, ainda mais quando pertencem a uma mesma cena. Logo, hoje em dia, a maior parte desses grupos contam geralmente com apenas um membro-fundador, ou em alguns casos, como o Discharge e o Napalm Death, nenhum integrante original, somente uma tradição sonora preservada por músicos de outras gerações.
O The Varukers, banda da cena que se encontra em tour pelo Brasil, é um belo exemplo pois mesmo tendo apenas o vocalista Rat, da sua fundação, mantém-se fiel às suas raízes de 30 anos atrás. Tiveram uma estrada intensa de 1980 a 1988, quando se separaram pela primeira vez. Cinco anos mais tarde Rat reformulou a banda, desta vez com o apoio de integrantes do Discharge (da qual Rat faz parte) e do Chaos UK. Por outras duas vezes vieram ao Brasil: 1999 e 2003. Sem frescuras, tocam onde são chamados, tanto é que foi uma das bandas gringas que mais circulou o interior do país.
Varukers no Centro-Oeste
Sua escala no centro-oeste deu-se em Brasilia, no último dia 17, com um show impecável no Porão do Conic. Foram muito bem recebidos pelo público e pelas três bandas bandas de abertura. A primeira, chamada Murro No Olho, tocava uma vertente mais pesada e rápida de hardcore europeu, merecia destaque pela baixista Amanda, uma única lady entre tantos marmanjos que rufava a casa com o som de seu instrumento. A segunda, Possuídos Pelo Cão, esmerilhava a casa com um crossover da melhor qualidade, fortemente influenciado por Discharge, DRI e MDC. A terceira, Os Maltrapilhos, punham mais lenha na fogueira para um show que ainda daria muito pano para as mangas, tocaram seu punk rock tradicional e contaram com um público fiel que cantava todas suas músicas (eles inclusive já tocaram em nossa amada Cuiabá).
E os Varukers então sobem ao palco. Apesar de o baixista Marvin não ter podido tocar nesta tour, quem segurou direitinho as pontas foi o brasileiro Fralda (ex-BlindPigs, RDP e Forgotten Boys, e atual Lobotomia). A platéia se quebrava em pogos, wreckings e slams, enquanto a banda destilava a pauleira em clássicos como "Soldier Boy", "Murder", "I Don't Wanna Be a Victim", entre outros.
Enfim, o que tivemos foi um grande show de uma grande banda, que nos alimenta a esperança de que o rock tem salvação, sim, apesar do insuportável mundinho indie e das inúmeras aberrações coloridas que têm tomado de assalto nossos dias. Os Varukers merecem vir a Cuiabá e o público cuiabano merece conhecer os Varukers, um dia desses, quem sabe.
Agradecimentos: Mundano Produções e Bianca Bulimia por viabilizarem nosso acesso.
Cedês:
The Squintz - Violent World
Banda da Cena candanga que a cada dia tem se destacado mais pelo Brasil e exterior.
Formada ainda em 2009, após reencontro de dois velhos amigos de infância: Moa (guitarra e voz) e Caio (guitarra e voz); conta ainda com seus "droogs" Hery (baixo) e Sonic (bateria). Mandando ver em um som fortemente influenciado pelo punk inglês dos Adicts, The Clash, Cocksparrer e Buzzcocks, mais uma pitada pesada de mod-revival, que conferem aos Squintz uma pegada forte, típica de quem sabe para que veio. http://www.myspace.com/thesquintz1977
Boobarellas - Desamor
À primeira ouvida pode soar como um misto de punkpink pirulito com hardrock farofa, mas trata-se de um som muito do honesto!
Boobarellas é uma banda paranaense radicada em São Paulo que já pode até debutar, pois são quinze anos tocando e experimentando os altos e baixos de uma carreira. Encabeçada pelo guitarrista Guile Jow, já teve inúmeras formações, mas sempre bucando se aprimorar. Este cedê é uma boa lição para bandinhas de adultos metidos a meninos e grupinhos de crianças choronas, que têm infestado nossa mídia ultimamente. Um disco muito bem dosado em suas seis faixas, que aborda com sinceridade temas ligados à vida comum e à idéia de se fazer o que realmente gosta. http://www.myspace.com/boobarellas
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Artigo originalmente publicado no Jornal Folha do Estado, Cuiabá-MT, domingo, 25/04/2010.
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