domingo, 24 de janeiro de 2010

Apresentando: THE SONICS



É muito comum ouvirmos de vários amigos conhecedores que quem começou a tocar o pau no rock foram ingleses como Led Zeppelin, Deep Purple e Black Sabbath. No entanto, vimos que as coisas não são bem assim, já que o rock pesado é apenas um menino bastardo, revoltado e violento, cujos pais, por sua vez, são ilustres "desconhecidos"! Mas a parte mais maravilhosa disso tudo é que de umas duas décadas pra cá as pesquisas passaram a se intensificar cada vez mais, não só entre pesquisadores, mas principalmente entre os fãs, que, sedentos por animosidades cada vez mais difíceis de se encontrar e buscando desmistificar inúmeras lendas, meteram as caras foram atrás das devidas informações. Obviamente, isso ocorreu antes do advento desta maravilha chamada internet, já que através dela ficou bem mais fácil de se adquirir as tão almejadas informações e que há alguns bons anos atrás precisaríamos esperar meses até que chegasse aquele cedê importado, com um maravilhoso encarte recheado de informações.

Mas voltando à pauleira... certa vez apresentamos um singelo e breve review sobre o MC5 e, claro, com todo respeito devido, foi-nos possível mostrar que existiam, sim, bandas muito mais animalescas do outro lado do Atlântico (e, por que não, no resto do mundo também) que as supracitadas e todas as demais de sucesso consagrado em nosso limitadíssimo universo pop.

Sem mais delongas, vamos ao que interessa...

Filhos de uma renomada professora de piano da cidade de Tacoma, uma modesta cidade dormitório da região metropolitana de Seattle, os irmãos Lary e Andy Paripa começaram seus experimentos musicais com amigos em 1960, tocando respectivamente guitarra e baixo, e fazendo bailinhos pelas escolas da área (aliás, este foi o começo de inúmeras grandes bandas da história do rock!), mas somente quatro anos mais tarde juntaram-se aos companheiros Gerry Rosille (piano e órgão), Rob Lynd (saxofone) e Bob Bennett (bateria) para começarem de fato a mudar a história. Surgia o The Sonics!

The Sonics foi/é uma banda que sempre teve o seu cantinho cativo na história do rock, não por ter sido um grande vendedor de discos ou por conta de experimentações de toda a sorte, mas por sua peculiariedade sonora, algo a perdurar fortemente pelo resto dos anos, em todo o mundo, e cujo reconhecimento formal só veio depois que muita gente famosa passou a citá-los como influência.

Influenciados principalmente por Little Richard e diversos tantos "malditos" como Link Wray, Hasil Adkins, Screamin' Jay Hawkins, Howllin' Wolf etc, eles incendiaram Seattle e contribuiram fortemente para fizer da região o que é hoje em termos roqueiros. Sim, anos antes de Jimi Hendrix e da famigerada geração SubPop, Seattle sempre teve os maravilhosos Ventures e bandas incríveis como The Kingsmen, The Fab. Wailers, The Drastics, The Dynamics, The Regents etc, mas foi mesmo com os Sonics que a coisa ganhou um sentido mais amplo e verdadeiro.

Ansiosos por passar seu recado, lançaram em 64 seu primeiro compacto com "The Witch" e "Keep A Knocking", uma regravação para o clássico de Little Richard. Localmente, seus discos se esgotaram nas vendas, já que as rádios de recusavam a tocar músicas "politicamente incorretas", cuja temática abordava assuntos "tabu", o que se estendeu para seus singles posteriores, já que as letras sempre giravam em torno de coisas como sexo e distúrbios mentais relatados em primeira pessoa ("Psycho", "The Hustler", "Boss Hoss", "Cinderella" e "Maintaining My Cool"), drogas ultra-pesadas ("Strychnine") e ocultismo ("The Witch" e "He's Waiting").

Pela Etiquette Records, gravaram uma série de pedradas sonoras, contidas nos discos: "Here Are the Sonics" (1965), "Merry Christmas" (1965) e "Boom" (1966). E em 1966 mudam-se para a Jerden Records, com a qual gravam "Introducing The Sonics", o disco mais light de sua carreira e que, segundo os próprios membros da banda, foi a pior burrada de suas vidas.

Todavia, mal se levantaram de um tombo e a mão do destino pôs-se a esquartejar a banda: Andy foi tocar com outras bandas da área, Larry foi virar professor de literatura (reza a lenda que até Kurt Cobain foi seu aluno no colegial) e Rob Lind foi virar piloto na guerra do Vietnã. Restaram Gerry Rosille e Bob Bennett, que conduziram a trupe como um morto-vivo até 1972, ano em que os membros originais se reuniram para um show no Seattle Paramount, de onde gravaram o excelente disco "Live Fanz Only". Depois disso, cada qual foi levando sua vida... No começo dos 80, usando o nome The Sonics, Gerry Rosille gravou o disco "Sinderella", que mesmo contendo regravações de clássicos da banda, não surtiu o mesmo efeito e nem tampouco tinha o punch dos Sonics originais.

Em 2007, com uma formação mais próxima possível de seus áureos anos, reuniram-se para uma apresentação no Cavestomp, em Nova Iorque, um festival dedicado ao garage-punk, estilo inaugurado pelos próprios Sonics mais de quatro décadas antes. Dos membros, ficaram: Gerry Roslie (vocais/teclados), Larry Parypa (guitarra) e Rob Lind (sax); para o baixo e a bateria, Don Wilhelm e Ricky Lynn Johnson.

No ano seguinte, gravaram um disco ao vivo na BBC de Londres e fizeram sua primeira tour fora dos EUA. Contudo, sua maior glória foi ter tocado em Seattle, no Halloween, 36 anos após sua última apresentação, com Bob Bennet na bateria, para um público formado por velhos amigos e inúmeros fãs que sequer haviam nascido na época de seu boom.

The Sonics, por mais desconhecida que pareça é uma das bandas que mais influenciaram o rock nos últimos 50 anos, já que sua legião de fãs famosos se estende desde o conterrâneo Jimi Hendrix até White Stripes e Eagles Of Death Metal, passando por Dead Boys, The Cramps, Billy Childish, The [Swiss] Monsters, Fuzztones, Mudhoney, Nirvana, Pearl Jam e tantos outros doidos mais. Uma banda para para se ouvir à exaustão, no último volume!

Um grande abraço a todos e até a próxima.

Originalmente publicado
dia 24 de Janeiro de 2010
Caderno FOLHA 3
Jornal FOLHA DO ESTADO
Cuiabá - Mato Grosso


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Um comentário:

Lara Freedom disse...

Vim até aqui só pra dar uma olhadinha, retribuir a visita e tal... E acabei perdendo a hora.
Escritores assim deveriam ser censurados por lei. Ou, ao menos, ser obrigados a incluir "aprecie com moderação" no início de seus textos.
Muito prazer, Anna! =)