segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O Q Q A ALEMOA TEM ?!


LINDA GAROTA DE BERLIM

Nina Hagen é uma das figuras mais enigmáticas que apareceram na cultura pop dos últimos 40 anos. Com uma vida e uma carreira recheadas de altos e baixos, ela é prova viva do artísta que se recicla e que atravessa os anos com a mesma vitalidade de quando surgiu para o mundo.


O começo de tudo


Leste de Berlim, há 5 décadas atrás...


Catharina Hagen nasceu no dia 11 de Março de 1955, em Berlim, na então Alemanha Oriental. Filha de Hans Hagen e Eva-Maria Hagen, uma artísta muito conhecida por aqueles lados da Alemanha.
Aos 2 anos testemunhou a separação de seus pais, sendo que com o passar do tempo seu contato paterno fez-se cada vez mais raro. Contudo, foi na família que Nina teve sua primeira grande influência na vida artística. Aos 4 anos entrou para o ballet e aos 9 já era considerada um prodígio na ópera. Quando fez 11 anos, sua mãe se casou com um intelectual subversivo chamado Wolf Bierman. Tamanha foi a influência das idéias do padrasto que, no ano seguinte, Nina conseguiu ser expulsa (!!!) da Juventude Socialista. Aos 16, deixou a escola para montar uma banda, com a qual conseguiu a proeza de adicionar ao repertório muitas músicas que até então eram proibidas pelo regime, como canções de Janis Joplin e Tina Turner.



Carreira


Capa de "Du Hast den Farbfilm vergessen",
coletânea
que abrange todo o começo de sua carreira.


Por volta de 1972-73, Nina estudou performance musical no "Estúdio Central da Música Leve de Berlim Oriental" (!) e em seguida formou a banda Automobil, tornando-se muito conhecida naquela região, principalmente como a mais jovem revelação da schlagermusik (música pop alemã), o que durou até 1975, tendo inclusive lançado alguns singles pelo selo estatal AMIGA e excurcionado por toda a região da Saxônia e de Brandemburgo.


Nina Hagen & Automobil, 1974

No ano seguinte, seu padrasto havia consiguido um visto de trabalho para entrar na Alemanha Ocidental, todavia teve negada sua entrada na volta ao lado leste. Eva-Maria e Nina, por sua vez, conseguiram um visto para "passar uns tempos" com Bierman do outro lado. Ambas foram embora para nunca mais voltarem à Alemanha Vermelha.
Já no lado ocidental, Nina se mandou para Hamburgo e assinou um contrato com a CBS de lá.
Aconselhada pelo pessoal da gravadora a se aclimatar ao estilo de vida ocidental, viajou por toda Alemanha Ocidental, Austria e Suiça, tendo ainda passado uma temporada na Inglaterra, onde frequentou a cena local e estreitou seu convívio com gente como The Slits, Joe Strummer, John Lydon, Siouxie Sioux etc.
De volta à Alemanha, formou em 1977 a Nina Hagen Band, com a qual gravou os discos "Nina Hagen Band" (’78) e "Unbehagen" (’79), sendo que este último se dividiu em uma parte instrumental gravada na Alemanha e os vocais gravados em Los Angeles, EUA, já que ela tinha outros planos para sua carreira que não ficar na Europa germânica...




Anos 80

Nina & Cosma Shiva, 1982


Tocando com uma nova banda, Nina fez uma bem sucedida tour pela América do Norte. Pouco tempo depois, engravidou do músico Ferdinand Karmelk e em maio de '81, deu a luz à filha Cosma Shiva Hagen, em Los Angeles mesmo. No ano seguinte lançou o album "NunSexMonkRock", seu primeiro disco inteiramente em inglês e recheado com toda sorte de sonoridades.
Por volta de '83, as mudanças se fizeram mais pungentes, pois passou a incluir em suas entrevistas assusntos como transcendência, ufologia, direitos dos animais e vegetarianismo.
Não demorou muito e Nina Hagen fez seu primeiro show no Brasil, em 1985, no primeiro Rock In Rio. Foi uma das melhores apresentações de então, pois poucos artístas tinham a capacidade de concatenar públicos tão diversos, como fãs de heavy-metal, punk rockers e entusiastas da new wave. De quebra, um então garoto conhecido como Supla convidou a diva para um dueto na música "Linda Garota de Berlim", que saiu no disco "Humanos", da banda Tokio. Verdade seja dita, esse disco do Tokio só vendeu mesmo por causa da participação de Nina, algo que se repetiu em 2002, com a mesma música, no disco “Charada Brasileiro”

1985...

Uma parceria com Lene Lovich, traz em '86 o single "Don't Kill The Animals". No ano seguinte, para celebrar o fim de um contrato de 10 anos com a CBS e o casamento com um carinha 15 anos mais novo, Nina lança, de forma independente, o EP "Punk Wedding".
Em '89, sai o album "Nina Hagen" e ela parte para uma tour pela Alemanha, na mesma época em que, da relação com o francês Frank Chevallier, nasce seu segundo rebento: Otis Chevalier-Hagen.



Anos 90


1995

Entra uma nova década e Nina está vivendo em Paris, com seus dois filhos. Lançando discos regularmente, faz muitas tours pela europa e parcerias com muita gente importante (Udo Lindemberg, Dee Dee Ramone, Adamski, Christopher Franke, Rick Jude, Thomas D., KMFDM etc).
Os anos de 1998 e ’99 foram os mais atribulados em termos de trabalho, pois além de gravar o hino de um time de futebol Eisern Union, como um cd-single, Nina também passou a apresentar um programa sobre ficção científica na tv inglesa. Em ’99, lançou o puramente religioso “Om Namah Shivay”, que só foi vendido pela internet. No mesmo ano realizou um velho sonho: encenar uma peça de Kurt Weill e Bertholdt Brecht, na qual fez o papel de Celia Peachum, na peça “Die Dreigroschenoper” (A Ópera dos 3 Centavos).

Die Dreigroschenoper, 1998




Anos 2000

Big Band Explosion, 2004


Após um período de constantes acontecimentos, Nina Hagen adentra a nova década com o pé direito! Seu single “Schön Ist Die Welt” torna-se a música oficial da Expo 2000. Em fevereiro do ano seguinte, lança o disco “The Return Of The Mother” e ainda faz alguns trabalhos com Rosenstolz e Mark Almond (Soft Cell).
Não faz muito, ela gravou com os finlandeses do Apocalyptica o single “Seeman”, uma música do Rammstein, e também o album “Big Band Explosion”, no qual evidenciou sua faceta de crooner ao gravar vários clássicos de swing .

Nina Hagen & Apocalyptica - Seemann / 2003


Nos últimos anos, Nina Hagen tem sido uma ferrenha opositora à guerra no Iraque, além de, é claro, uma incondicional defensora dos direitos dos animais e vegetariana convicta. Enfim, uma legítima deusa da música pop, herdeira artística de Marlene Dietrich, Carmen Miranda e David Bowie, que a toda hora se reinventa, sem correr o risco de envelhecer, mesmo com 50 e poucos anos nas costas...


Promo do Programa de Sci-Fi da tevê Inglesa


Dinamarca, 2002




Artigo originalmente publicado
dia 09 de Novembro de 2008
Caderno FOLHA 3
Jornal FOLHA DO ESTADO
Cuiabá - Mato Grosso

Nenhum comentário: