segunda-feira, 24 de agosto de 2009

The MISFITS




A ERA ESTÁTICA

O que fazer quando se vive, ao mesmo tempo, tão longe e tão perto de uma das maiores cidades do mundo?! Pois bem, enquanto as coisas "pipocam na capital", o interior segue sua bela pacata e rotina, e os jovens, além de irem à escola, curtem filmes baratos - desses feitos para rodar nos cinemas interioranos - e formam bandas de rock!
É fato! Uma rapaziada do interior, influenciada pelo que é "demodê" nos grandes centros - rock das décadas passadas e muitos filmes B - acabam por se tornar a mais nova sensação nos inferninhos do underground da capital.
Uma dessas bandas (e talvez o maior exemplo disso) é o MiSFiTS, que nasceu em 1977, na minúscula cidade de Lodi, um pedacinho da Itália em New Jersey, aos arredores de New York, EUA, com os colegas de escola Glenn Anzalone e Gerald Caiafa. Glenn adotou o nome artístico de Danzig e Gerald passou a se chamar Jerry Only. Gravaram um modesto compacto com duas faixas: "Cough Cool" e "She"; no qual Glenn cantava e tocava um piano elétrico e Jerry, o baixo, acompanhados do baterista Manny Martinez, um amigo jazzísta da área.
A experiência deu tão certo que eles recrutaram mais dois amigos da vizinhança - Francesco Licata e Mr. Jim - para gravar o disco "Static Age", no começo de '78, disco este que só acabaria saindo 20 anos mais tarde, pois na época, seu conteúdo fora todo "esquartejado" em vários compactos e coletâneas. Nesse mesmo período somaram-se à banda o guitarrista Bobby Steele e o baterista Arthur Googy, com os quais se repete a mesma história no decorrer de dois anos: um album feito em vários compactos, também!
Neste caso, trata-se do disco "12 Hits From Hell". Seu lançamento estava previsto para 2000, mas desta vez a empreitada da gravadora fora embargada por Glenn Danzig e Jerry Only, pois tanto a mixagem quanto a parte gráfica não satifizeram a ambos. É bom lembrar que o disco todo apaerece em pedaços nos albuns: "Collection I", "Collection II", "Legacy Of Brutality" e "Walk Among Us".
Não obstante, Bobby Steele deixa a banda para formar o Undead, e Paul, o irmão mais novo de Jerry, assume a guitarra e passa a pegar a estrada com a banda. Em estúdio, ajuda a completar as gravações do que já havia sido feito e assim debutar no disco "Walk Among Us". Por ser alto, magro e carrancudo, Paul recebe o apelido de Doyle Von Frankenstein, ou simplesmente Doyle.
MiSFiTS não nasceu para ser uma banda punk, mas foi perfeitamente absorvido pela cena novaiorquina que então explodia para o mundo, por meio dos Ramones e do Blondie. Os MiSFiTS, sob clara influência de Stooges e The Doors, e tais quais os ingleses do Damned, foram os criadores do chamado "death rock", um estilo cuja principal característica é o humor negro nas letras e voz empostada no melhor estilo estilo Elvis. Enquanto o Damned aproximava-se mais do ultra-romantismo Vitoriano, os MiSFiTS imprimiam elegância ao "pastelão", por meio de críticas cáusticas e irônicas ao establishment e à crescente banalização da violência. Entre 77 e 83, todas as composições da banda são atribuídas a Glenn Danzig
Em termos visuais, a banda também inovou ao lançar o DEVILOK, um penteado cuja idéia era criar um "chifre" com o cabelo, que caia pela testa.
Em '82 lançaram três epês cuja linha sonora tendia mais para o hardcore e o speedmetal: "Earth A.D.", "Wolf's Blood" e "Die, Die, My Darling"; desta vez com o apoio do colombiano Roberto "Robo" Valverde, na bateria. Segundo muitos - e até mesmo os caras do Metallica - foi ali que começou o que viria a ser chamado de thrash metal. E falando nisso, é muito comum nos depararmos com o Metallica tocando músicas dos MiSFiTS, mas isso é só um detalhe perante a áura cult que se formou em torno da banda nos anos seguintes.


O PRIMEIRO FIM

Após lançarem as sementes do que mais tarde viria a ser o metal, as relações entre Glenn e Jerry andavam bastante desgastadas e isso acabou por ocasionar o fim da banda. O nome MiSFiTS manteve-se na erraticidade por conta uma longa disputa na justiça. De um lado, Glenn Danzig, que vendera todo o catálogo da banda à gravadora Caroline Records, e de outro, Jerry Only, que seguir na estrada com a banda. A disputa durou 12 anos. Glenn continuou como dono das músicas feitas entre 77 e 83, enquanto Jerry Only ganhou o direito de usar o nome MiSFiTS como melhor lhe aprouvesse.
Nos anos em que ocorreu a disputa, muita coisa aconteceu... Glenn Danzig juntou-se a Eerie Von e Stevie Zing, dois antigos membros de apoio dos MiSFiTS, e formou o SAMHAIN, que posteriormente se tornaria apenas DANZIG. Já Jerry Only, ao lado de seu irmão, Doyle, formou o KRYST THE CONQEROR, que apesar das origens punk, flertava fortemente com o metal épico.


MiSFiTS II: a Ressurreição na Era Only



Em '95, os irmãos Caiafa, Jerry e Doyle, reformulam o MiSFiTS, mas desta vez com o baterista Dr. Chud e o crooner Michaele Graves. com esta formação lançaram 3 cedês entre 1997 e 2000: "American Psycho", "Famous Monsters" e "Cuts From The Crypt". Em '98 vieram pela primeira vez ao Brasil. Sem Graves, mas com Mike Hideous, um gótico que, aliás, representou muito bem o misencene da banda.
Em 2000, Graves e Chud deixam a banda. Jerry e Doyle juntam a uma dupla de peso: Robo (baterista que tocou com o MiSFiTS em 82/83) e o guitarrista Dez Cadena; ambos ex-membros do histórico Black Flag. Até aí, tudo bem e perfeitamente compreensível, mas o problema é o que viria depois, a partir da saída de Doyle...

Chud, Graves, Doyle e Only


Então aconteceu o "pior': Doyle se estranhou com o irmão e foi tocar com Glenn Danzig, apenas clássicos do MiSFiTS antigo, ao passo que Jerry Only passa a ter Marky Ramone como baterista convidado de sua encarnação dos MiSFiTS e contar com o apoio de Dez Cadena na guitarra e vocal, fora as sucessivas roubadas em que entra à posteriori. Em 2008, de modo menos espalhafatoso e mais digno, voltam a tocar no Brasil, mas com Jerry Only, Dez Cadena e Robo.

Glenn Danzig & Doyle

Enfim, o que resta a nós, fãs, é apreciar tudo o que foi feito de bom em seu passado, longe das cópias mal-feitas que aparecem todos os dias sob o estúpido rótulo de "horror punk" e de pândegos projetos de seus ex-integrantes (por exemplo, uma questionável versão do Undead para "12 Hits From Hell").
Uma boa dica para se conhecer bem esta banda é o boxset de 4 cds, que abrange (quase) tudo de seus áureos anos ou buscar internet à fora a coletânea virtual "Caustic Age", que compila perfeitamente todas as suas fases de '77 a '83.

Por enquanto é isso. Um grande abraço a todos e até a próxima!

tic-tac... tic-tac... tic-tac...

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Originalmente publicado no jornal Folha do Estado, dia 09 de Agosto de 2009, no caderno Folha 3

Um comentário:

Thaís disse...

Amooooooooooooo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!